domingo, 29 de maio de 2011

Para o fim da Liberdade de Repressão.

São Paulo e outras partes do mundo tem vivido um pesadelo no que diz respeito à liberdade de expressão. Na semana passada, algumas centenas de defensores da legalização da maconha participaram de uma tentativa de protesto que teria início no vão do MASP (Museu de Arte de São Paulo, na Avenida Paulista). O protesto foi proibido pela justiça e na tentativa de negociação com os PMs, os organizadores conseguiram permissão contanto que não houvesse nenhuma menção à droga e ao crime.

Todas as palavras que tinham qualquer relação com maconha foram cobertas com faixas pretas e os manifestantes cobriram também suas bocas e iniciaram a marcha. A negociação foi infringida, claro, e os manifestantes iniciaram gritos como "Polícia sem-vergonha, o seu filho também fuma maconha" - "Ei, polícia, maconha é uma delícia" - "Dilma Ruseff, libera o nosso beck".

A partir desse momento a tropa de choque foi ativada e diversos manifestantes sofreram agressões e 6 foram presos.

O video que saiu da Folha que mostra a agressão policial no dia 21 de Maio não é só revoltante, ele PEDE reação.

E foi exatamente o que ocorreu ontem, 28 de maio, com início no vão do MASP e fim no centro da cidade de São Paulo: Pessoas de todas as tribos, com diversas bandeiras foram protestar o CALE-SE que os manifestantes sofreram na última semana.

A questão já não era mais a legalização da droga somente, era em favor do vegetarianismo, da redução ou erradicação da tarifa do transporte público, do uso de bicicletas no trânsito de São Paulo, contra a agressão policial, da liberdade e respeito ao homoafetivo, aborto, enfim, foram 35 entidades levantando suas bandeiras.

Jovens, senhoras, senhores, bebês, cachorros, papagaios, siris e aves de todas as cores estavam lá para defender o uso do rosa, do amarelo, do azul, do preto e do branco, o uso da roupa íntima, o seu não-uso, o uso do espaço e do tempo, defender o uso da boca, dos olhos e dos ouvidos. Defender o uso do corpo, da mente e do coração sem que ninguém interferisse em mais nada, quando não houvesse uma agressão à liberdade do próximo.

A harmonia das flores mostrou a única arma que pode ser usada pra contrapor um mundo entupido de sangue e ódio. O gesto da jovem que tentava entregar flores aos oficiais mostrou não há vingança e rancor no futuro desejado. Os oficiais que aceitavam as flores mostravam que também estavam presos na cinzenta caixa de repressão e sufoco.

Quando eu fui em direção ao vão do MASP ontem, meu corpo demonstrava minha fragilidade e meu medo. Quando eu tive que ultrapassar o cordão de policiais para entrar na manifestação meus olhos se voltaram para o chão num movimento instintivo de receio à repressão. O corpo, que podia sofrer as piores consequências, mostrava-me de todas as formas que eu deveria estar em casa, assistindo tudo aquilo pela televisão ou pela tela do meu computador, embaixo das cobertas, naquela que viria a ser a noite mais fria de São Paulo em todo o ano.

Mas não era o que o coração e o espírito de indignação diziam. Quando eu finalmente ultrapassei a barreira de policiais e me deixei envolver pelas centenas de manifestantes e bandeiras, pelo som arrepiador das baterias, e pelos sorrisos dos voluntários que distribuíam as flores, pude sentir coragem e vitória. Éramos muitos. Éramos tudo que precisávamos ser. Éramos juntos.

A Marcha da Liberdade foi um grito contra o sufoco de todos. Contra o sufoco de qualquer um que indigna-se com qualquer coisa. Somos cidadãos que contribuem para um Estado que insiste em não responder e em corromper.

Mas ontem mostramos que estamos aqui. E vamos sair às ruas, se preciso. Porque paciência tem limite e esse descaso logo há de rompê-lo.


O outro video que segue abaixo é de um defensor da legalização da maconha, que procura resumir o ocorrido em São Paulo nos últimos dias.


0 comentários:

Postar um comentário