quinta-feira, 3 de março de 2011

As culpas do destino e o ponto final de Bloch.

Dedico esse post à Regulamentação da profissão do Historiador.


" Nada como reproduzir a nota humilde, deixada por Bloch em um pé de página: "Talvez não seja inútil acrescentar ainda uma palavra de desculpas; as circunstâncias de minha vida atual, a impossibilidade em que me encontro de ter acesso a uma biblioteca, a perda de meus próprios livros fazem com que deva me fiar bastante em minhas notas e em minha memória. As leituras complementares, as verificações exigidas pelas próprias leis do ofício cujas práticas me proponho a descrever permanecem para mim frequentemente proibidas. Será que um dia poderei preencher essas lacunas? Nunca inteiramente, receio. Só posso, sobre isso, solicitar a indulgência, diria assumir a culpa, se isso não fosse assumir, mais do que seria legítimo, as culpas do destino."
" o destino não quis, e a culpa de Bloch é antes a culpa de cada um de nós. O final abrupto do livro, surge quase como um constrangedor silêncio. Mais do que a falta de notas e referências — que antes sinalizam a extrema erudição do historiador -, fica a ausência gritante de um ponto final. Dizia Bloch: "causas não são postuladas, são buscadas" e assim o texto se cala, por mais que o leitor, angustiado com esse término inesperado, tente ler nas entrelinhas ou em algum outro sinal que ficou sem querer ficar. "Causas não devem ser postuladas" assim como não se explicam a violência da guerra e os radicalismos cometidos em nome dela".
Marc Bloch foi preso por participar da Resistência Francesa à invasão alemã. Foi fuzilado pelos nazistas e não completou seu livro "O Ofício do Historiador". O livro foi publicado por Febvre, com quem conviveu intensamente.

Li um ou outro capítulo na graduação do livro que também leva o título "Apologia da História" , mas inicio na íntegra a leitura do livro agora para a Seleção de Mestrado da USP.

Parabéns Historiadores, pela regulamentação da nossa profissão! Mais uma luta vencida!


BLOCH, M. Apresentação à edição brasileira, Por uma historiografia da reflexão In.: Apologia da História. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2002