quarta-feira, 1 de junho de 2011

Calma aí, calma aí, calma aí!

Como diria o nosso hilário amigo que causou um acidente embriagado ali: "Calma aí!". 

Então, quer dizer que os saudosos homens públicos da nossa cidade canção deram pra fazer o que bem entendem, e como bem desejam? 

O que é isso? 

Acabo de ler uma notícia no O Diário em voz alta para o meu namorado, que está a poucos metros de distância de mim. Leio, omitindo o endereço e nome do bar propositalmente, e no fim da reportagem pergunto: Rafa, adivinha onde aconteceu isso? Sua imediata resposta foi: São Paulo? 

Onde mais aconteceria uma atrocidade destas? Para os que não acompanharam a recente notícia que tive acesso no mega-veloz-canal-de-comunicação-superconfiável-Facebook, segue a notícia d'O Diário abaixo:

Uma abordagem da PM deixou os clientes do bar Quintal, na Avenida JK, assustados na noite de ontem.  Conta uma colega de trabalho que quatro viaturas chegaram ao local às 20 horas, com direito a pistolas e até submetralhadora em punho, gritando com  os clientes. O objetivo era fechar o bar, que estaria sem alvará. O fechamento não se concretizou, porque a papelada — uma liminar — já estava nas mãos do proprietário.
O que sempre chamou a atenção foi a truculência da polícia, desproporcional.
As mulheres que estavam no estabelecimento foram colocadas contra a parede e revistadas por uma policial. “Uma PM baixinha chutou o meu pé e disse que era para eu abrir as pernas. Comecei a chorar”, disse a colega. “Uma amiga reclamou da violência e foi agarrada pelos cabelos. Não precisava daquilo”.

Os comentários revoltosos no início da lista que segue a notícia são típicas reações não-recentes de cidadãos maringaenses já temerosos com a ação policial na cidade. Não é de hoje que o poder público reprime e censura, com pífea justificativa, momentos de lazer, principalmente dos universitários (exclusivamente da UEM, na área universitária).

Em seguida, na lista de comentários, surgem comentários raivosos e violentos, em defesa do serviço policial de agressão e descortesia. Em resposta a um deles eu repondo: Não, não quero que o policial me peça licença e me estenda um sorriso antes da revista. Eu quero, sim, que a polícia entre no estabelecimento, em alto e bom tom (sem agressividade) peça para que os clientes se retirem, pois o bar irá fechar por problemas judiciais.

Ao invés disso, os policiais encostam os presentes em uma parede, como relata uma testemunha, uma policial chuta o pé de uma cliente, ordenando-lhe que abra as pernas e puxa o cabelo de outra que está chorando de medo.

Eu posso estar enganada, cometendo um grande equívoco, postando algo que li somente em uma fonte há cerca de 5 minutos, e peço que desconsiderem meu desabafo se me excedo.

No entanto, não é de hoje (sim, me repito) que o poder público está tratando desta forma sua população. Os estudantes da Universidade Estadual de Maringá vem sofrendo similar repressão nos arredores da UEM. Revistas, bloqueios, confrontos, agressividade.

Há poucos meses, quando ainda morava na cidade, ouvi gritos desesperados de socorro que clamavam por polícia. Minha rua era calma e já morava lá há pelo menos um ano, sem que nunca tivesse ocorrido nada parecido. Por azar, era o dia de folga do segurança coletivo. Imediatamente, tremendo de medo, tranquei as portas e janelas, enquanto meu namorado ligava para a polícia. Liguei para o meu irmão para que não voltasse pra casa naquele momento e me tranquei no quarto temerosa. Cerca de dez minutos depois, quando tudo já estava silenciado, saí do quarto e vi a luz do giroflex vermelho na minha janela. Eu e meu namorado saímos de casa e, como numa boa cidade interiorana, toda a vizinhança estava à beira de seus portões, observando a conversa dos policiais com os moradores da casa. Eles gritavam com os moradores, chamavam-lhes a atenção, afinal os engraçadões tinham feito aquele alarme todo brigando com um vizinho nosso! A policial virou para toda a vizinhança e gritou: viu só? satisfeita? está vendo o circo que você armou na rua? trezentas ligações para a polícia de um alarme falso! A GENTE TEM MAIS O QUE FAZER, PORRA! 

Eu sei que o caso não ilustra exatamente o motivo do post, e a oficial estava certa até certo ponto, mas permitam que eu me explique: a impressão que dá é que a polícia acha que está num filme estadunidense, daqueles bem podrões, de "domingo maior", onde pode sair soltando xingões, chavões e clichês. 

Claro que esse desvio foi uma brincadeira... o ponto é claro e só falta mesmo a mobilização (que já começa a se levantar, pouco a pouco). O poder público de Maringá funciona a (des)serviço de uma elite conservadora e antiquada. Pois bem, quando é que a polícia invadiu bares burgos como o Sweet Pepper ou o Lava-carros*, por exemplo, pra revistar os mauricinhos e patricinhas que vendem cocaína e outras drogas em plena noitada?

*Esses bares são fictícios e qualquer semelhança com a realidade é mera coincidência. 

Até hoje não levantei a bandeira dos universitários "beberrões", "baderneiros" e "drogados" (como já nomeados pelos conservadores preconceituosos), mas essa notícia foi o limite - e eu sei que aí o universitário não é a vítima. Mas eu sei quem é o vilão.

Trata-se somente de levantarmos nossas vozes e impedir que a nossa cidade se transforme no absurdo de repressão que São Paulo tem vivido, por preconceito, ineficiência pública e conservadorismo barato.

Ei, eu estou falando com você, que me crucificou, sem eu ter feito nada! 

*eu vou me explicar, antes que um comentário ridículo apareça em reação ao ilustríssimo "acidente embriagado" - se beber, não dirija!

5 comentários:

Pois é Pri..a situação aqui está cada vez pior, e as reclamações por parte (principalmente) dos estudantes só fazem crescer. Campanhas pra mudar título de eleitor e posts de revolta em todas as redes socias são alguns dos efeitos dessa truculencia infundada. Contudo, em se tratando de Maringá, acho que enquanto não houver uma organização estudantil forte, que proteste e de fato possua um(s) porta(s) voz(es) sensato,capaz de voltar a atenção dos grandes (?) meios de comunicação maringaenses para o problema, todo este alarde continuará setorizado, quero dizer, conhecido apenas por uma pequena parcela da população que acessa aos blogs e as redes sociais, o que a meu ver, tira um pouco da credibilidade da causa e adia soluções . Tal tipo de situação tem de tornar-se um debate público, geral e não limitado somente as "confiáveis" redes sociais, como voce mesma já disse (ironicamente) em seu texto.

Acho que já passou da hora de uma marcha contra a irracionalidade policial, saindo dos portões da UEM indo até a Prefeitura. Convoquem os universitários todos. Eles movem a cidade, inclusive os meios de comunicação (abarrotados de estagiários trabalhando muito e recebendo pouco).

Sim, Raquel! Comentei isso há alguns dias sobre o movimento "Assuma" - que não ficou bem claro pra mim se é um movimento, uma campanha, uma organização... e até enviei uma mensagem pra eles, parabenizando a iniciativa, mas indagando as intenções do "assuma": em que níveis pretendem levar a questão..

Tá, o problema do álcool e dos bares no entorno da universidade (leia-se UEM) é importante... Mas mais importante que isso é a comunidade universitária no todo, seus interesses no geral, como categoria.

Além disso, há outras questões que deveriam ser debatidas e levantadas - transporte público, por exemplo - simples assim.

É... parece que todos que se "enfiam" nessa luta acabam sendo desvirtuados ou desestimulados...

As proporções da política maringaense já chegaram no ponto da reação faz tempo... O que não pode é deixar esfriar.

Pricsila, foi ótimo vc tocar no assunto.
Já estou farto, muito farto disso. Essa polícia mal preparada do Paraná já passou dos limites há muito.
Em nosso bairro (Zona 7, é claro) a polícia tem total conivência da minoria dos moradores, que milagrosamente falam em nome da maioria em uma "mequetrefe" e barulhenta (mais que os criticados "playboyzinhos" com som alto) associação de moradores (que não conta com nenhuma voz estudantil).
Claro que nunca concordei com barulho nas redondezas da UEM. Mas barulho se resolve com fiscalização do som nos carros; ou seja, barulho se resolve com silêncio, e não com a retirada da liberdade de uma maioria que busca os bares por pura diversão.
Essa política moralista "anti-boteco" que está sendo implementada em nossa cidade tem o total apoio de nosso prefeito (não menos moralista) Silvio Barros
O citado prefeito, odeia estudantes, como pode ser perceptível em suas declarações. Essa perseguição é tamanha, que até eventos fora da Zona 07, em chácaras afastadas da cidade, estão sendo barrados. O prefeito chegou a declarar que quer ver todo o equipamento de som ser triturado por um rolo compressor.
É claro e evidente que como apoio e pano de fundo de tudo isso estão os interesses especulativos do mercado imobiliário, que cobiça essas áreas de boteco da Zona 07 para a construção de edifícios. Ou alguém duvida que este será o fim do prédio no qual se situava o Kanarinhus.
Mas em que medida o pseudo-moralismo, a generalização de um estereótipo do "estudante", e a conivencia de autoridades e moradores, não geram toda essa liberdade para uma polícia truculenta e mal-preparada realize ações estapafúrdias como essa?
E os prejudicados com tudo isso? Quando reagirão? Quando estudantes entenderão que são moradores da Zona 07 e pressionarão pela participação de moradores-estudantes na tal associação de Bairros.
Será que os demais habitantes que apoiam essas medidas só se darão conta desse absurdo quando isso bater na porta deles? E que pelo caminhar da história, daqui a pouco seremos impedidos até de comprar cerveja em prateleira de mercado.
Em Maringá, as vezes me sinto em um filme que se passa no interior do Texas, em que Patrulheiros e Xerifes querem expulsar qualquer tipo de "forasteiro beberrão" de suas terras, para defenderem com todo fervor a hipocrisia de suas próprias famílias!
Estamos produzindo uma sociedade de neuróticos, complexados e tapados para os tempos vindouros.

Ahhh, eleições que nos aguardem! hahaha

O Silvio Barros tá mexendo com uma galera que não fazia cócegas no eleitorado dele... que não tinha seu título aqui. Vai ser fácil mostrar aos estudantes que precisamos deles pra mudar o quadro de coronelismo de Maringá.

E como eu disse: não é somente a questão dos bares (embora eu ache muito relevante - é exatamente o que você disse: havia outras formas de controlar a situação do lazer. Delimitação de horário, fiscalização de som alto - que aliás deveria ser melhor fiscalizada na cidade toda - etc etc)

nas duas eleições que participei, não tinha esperanças de tirar os barros de lá. Mas agora eles estão colaborando conosco. Há uma luz!

hahaha

*o teu exemplo de filme foi melhor ainda que o meu. eu quis demosntrar policiais american jerks, mas o bang bang é ainda melhor: antiquado, retrógrado e irracional.

Se Maringá quer se livrar do título de Fazenda Iluminada, tem que fazer por merecer. Porque, por enquanto, concordo totalmente com o apelido.

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